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Não existe solução milagrosa no tratamento de esgotos. Toda solução tem sua desvantagem. Se não tem, há algo errado... O tratamento de efluentes é uma ciência sólida. Essa ciência se divide, basicamente, entre tecnologias biológicas e físico químicas de tratamento. As rotas biológicas se aplicam aos efluentes que contem maior fração biodegradável (relação DQO/DBO inferior a 2,5). Os efluentes sanitários, por exemplo. As rotas físico químicas se aplicam aos efluentes que não se enquadram na relação acima, e que tem fração inerte mais elevada. Efluentes de alguns processos industriais e minerários, como efluentes da indústria química e automotiva, por exemplo. (há parênteses em relação à fração volátil de alguns efluentes, mas em linhas gerais é assim). Nas rotas biológicas, a própria microbiota presente nos esgotos é que coloniza e se reproduz nos reatores, promovendo a degradação dos poluentes orgânicos, em ambiente aeróbio ou anaeróbio. Isso é assim em todos os sistemas biológicos. Sejam nos intensivos (menores áreas e maiores taxas de aplicação orgânica) como nos extensivos (maiores áreas e menores taxas de carregamento orgânico). Variam os tipos de reatores, os arranjos, mas o principio de tratamento biológico é sempre o mesmo. E como subproduto dos tratamentos biológicos teremos sempre: gases, água e sólidos (lodo). Essa é a lei. Não existem plantas, bambu, minhocas ou algum insumo especial (enzimas, superbactérias) que subvertam a lógica da rota biológica e dos seus mecanismos. E é ai que reside um grande problema. Nos esforços de universalizar, o Brasil tem investido muitos recursos financeiros. Mas faltam investimentos na análise técnica das soluções que tem sido aplicadas. Há muitas soluções milagrosas sendo vendidas e consumindo recursos, públicos e privados. É bom então sempre reforçar: → Não existe, “A melhor” solução (panaceia), que não tem desvantagem e atende a todos os contextos. → Não existe solução que não gere lodo (afinal, onde vão parar os sólidos fixos não degradados presente nos esgotos?) → Não existem substratos milagrosos que consumam matéria orgânica ou que sumam com o lodo (as plantas nos wetlands não consomem matéria orgânica. Plantas são seres autotróficos, ou seja, produzem matéria orgânica. Em nosso site explicamos bem isso!) → Não existem ETE biológicas que sejam dependentes da dosagem de enzimas e bactérias liofilizadas como rotina operacional. (isso só deve ocorrer pontualmente, no startup ou como medida contingencial. Se virou rotina, a ETE já está operando fora da condição normal e dosar bactérias e enzimas não vai salvar a ETE). → Inovação no tratamento de efluentes não pode subverter as leis da natureza e todo o legado de experiências científicas e práticas. Universalizar o saneamento com segurança técnica e bases científicas seguras é um dever de todos nós, projetistas, pesquisadores, operadores e cidadãos. Nós da wetlands estamos empenhados nessa causa. E você?