Um estudo clínico conduzido por pesquisadores brasileiros com apoio do Ministério da Saúde traz novas perspectivas sobre o cuidado de pacientes com cardiomiopatia chagásica.
O CHAGASICS, liderado pelo cardiologista Martino Martinelli, comparou a eficácia do desfibrilador cardioversor implantável (DCI) e do medicamento antiarrítmico amiodarona na prevenção da mortalidade em pacientes com Doença de Chagas crônica.
Embora o DCI não tenha reduzido a mortalidade geral, os resultados mostram que ele foi significativamente eficaz em reduzir a morte súbita cardíaca em até 72%.
A cardiomiopatia chagásica é uma das principais causas de morte súbita em pacientes com Doença de Chagas, que atinge milhões de pessoas na América Latina e vem ganhando relevância global devido à migração. O estudo CHAGASICS, realizado em 13 centros no Brasil, incluiu 323 pacientes com risco moderado a alto de mortalidade, determinado pelo escore de Rassi.
Os participantes foram randomizados para receber o DCI ou tratamento com amiodarona, sendo monitorados por um período médio de 3,6 anos.
Superioridade do DCI
O DCI é um dispositivo médico implantado cirurgicamente sob a pele, geralmente na região torácica, com a função de monitorar continuamente o ritmo cardíaco e corrigir arritmias potencialmente fatais. É utilizado em pacientes com alto risco de morte súbita cardíaca, especialmente aqueles que apresentam arritmias ventriculares graves, como fibrilação ou taquicardia.
Os resultados indicam que, além de reduzir a morte súbita, o DCI também diminuiu as taxas de hospitalização por insuficiência cardíaca e a necessidade de marcapassos.
Esses achados destacam a importância de considerar o uso do DCI em pacientes com Doença de Chagas em risco, apesar de o estudo não ter mostrado uma redução significativa na mortalidade por todas as causas.
O Dr. Martino Martinelli, diretor de Unidade Clínica de Estimulação Cardíaca Artificial do InCor-HC-FMUSP, explicou que o estudo foi motivado pela falta de evidências concretas sobre a efetividade de ambos os tratamentos em pacientes com cardiomiopatia chagásica crônica.
"A amiodarona tem sido amplamente utilizada em toda a América Latina, mas sua eficácia na prevenção de mortalidade nunca foi comprovada. O DCI, no entanto, não tem sido utilizado porque nunca foi testado", afirmou.
O CHAGASICS, portanto, foi desenhado para testar e comparar o DCI e a amiodarona especificamente em relação ao impacto sobre a redução da morte súbita cardíaca.
Ele também destacou que o DCI se mostrou claramente mais eficaz na prevenção de morte súbita, enquanto "a amiodarona não demonstrou benefícios significativos para a prevenção primária de morte súbita cardíaca".
Outro ponto importante abordado pelo estudo foi a redução significativa das hospitalizações por insuficiência cardíaca no grupo que utilizou o DCI.
"Acreditamos que isso se deve à menor taxa de estimulação ventricular, frequentemente necessária em pacientes que usam amiodarona",
Professora
4 mMuito pertinente e elucidativa