Tem administrativista chorando: a era Chevron acabou.
Na sexta-feira, a SCOTUS superou Chevron, em uma decisão que já era esperada diante da atual composição do tribunal e da polarização que acabou contaminando o debate. Tem muita política por trás dessa história e, consequentemente, muitas emoções à flor da pele. Mas o que significa essa decisão?
Chevron tem 40 anos e é um dos precedentes mais citados pelas cortes dos EUA. Nele, estabeleceu-se um teste para definir quando as cortes deveriam ser deferentes à interpretação de normas por agências governamentais. Em resumo, o teste tinha dois passos: primeiro, a corte deveria avaliar se o Congresso tratou da questão de forma clara. Estava claro? Então, não havia espaço para a interpretação da agência. Havia ambiguidade? Então, o segundo passo era avaliar se a interpretação da agência era razoável. Se a resposta fosse sim, a corte deveria adotar uma postura de deferência.
Esse é o fim da deferência das cortes dos EUA às interpretações das agências?
Não exatamente. Há outros precedentes da Suprema Corte cuja observância pode culminar nessa deferência, embora de forma menos determinante e mais limitada a um contexto específico. Skidmore talvez seja o principal. Sob Skidmore, a interpretação de uma norma pela agência será levada em consideração, e o seu peso em cada caso vai depender de elementos como a sua consistência com posições anteriores e posteriores da agência, o raciocínio subjacente e o grau de especialização da agência.
É claro que Skidmore é bem mais atenuado do que Chevron. E é claro que, do jeito que as pessoas adoram se valer de decisões judiciais famosas, o fim de Chevron pode reforçar um movimento de interferência excessiva e impertinente do Judiciário em agências técnicas - nos EUA e no Brasil, que adora importar novidades de outros países, muitas vezes sem pensar muito sobre sua adequação ao nosso ordenamento jurídico.
Eu, particularmente, não gosto desse cenário. Acho que o fim de Chevron, aliado à permanência de doutrinas como a Major Questions Doctrine, se insere em um contexto que se vale do argumento do déficit democrático para enfraquecer agências e órgãos técnicos, mesmo quando suas decisões são fruto de um processo permeado por uma efetiva participação da sociedade.
A ver as cenas dos próximos capítulos.
Técnico em Petróleo e Gás em Andamento
2 mMal posso esperar, para um dia poder ter a oportunidade de fazer parte desta empresa 😃.Altera&Ocyan