Crenças limitantes e seus efeitos nocivos ao desenvolvimento da liderança feminina
Por Marciane Santo - Diretora Técnica do Sebrae no Amapá
Devemos reconhecer os avanços visíveis da mulher em espaços de poder nos últimos anos, especialmente, no campo dos negócios. A cada dia fica mais evidente a importância de fomentar o empreendedorismo feminino, ele é fundamental para que as mulheres possam aumentar seus rendimentos, gerar empregos, ter sustentabilidade no mercado e, sobretudo, alcançarem a independência financeira, assumindo o protagonismo de suas próprias vidas. Mas ainda existem inúmeros desafios e dificuldades que impedem um crescimento mais acelerado das mulheres liderando negócios.
Segundo Renata Malheiros, coordenadora Nacional dos projetos de Empreendedorismo Feminino do Sebrae, as duas principais raízes dos desafios à mulher empreender no Brasil são: tempo e energia gastos com tarefas domésticas não remuneradas e cuidados com crianças e/ou parentes, além das crenças limitantes. Quanto a necessidade de equilíbrio entre a vida doméstica e profissional, já são mais do que conhecidos e amplamente debatidos, visando a divisão das tarefas com os demais integrantes do seio familiar, mas no que se refere às crenças limitantes, precisamos aprofundar a nossa abordagem. Afinal, o que são crenças limitantes?
Crenças limitantes são aqueles estereótipos que a sociedade instala na psiquê desde a primeira infância, algo que em algum momento da sua vida lhe disseram e ficou no seu subconsciente, você passou a acreditar naquilo, e como consequência surgem as inúmeras limitações. As crenças limitantes estão intimamente ligadas as decisões que tomamos ao longo da vida, inconscientemente reproduzimos essas crenças, elas determinam o sucesso ou insucesso da mulher na vida pessoal e nos negócios. Grande parte das crenças limitantes está ligada com a forma pela qual as mulheres são vistas, e como a sociedade diz que ela deve se comportar. Vejamos alguns exemplos:
- Eu não sou “boa” o suficiente: Grande parte delas não acredita ser educada, magra, jovem ou inteligente o suficiente em função de uma pressão estética para que elas se encaixem em um padrão, ou que ajam de acordo com alguma etiqueta social vinda diretamente do século XVIII.
- Eu preciso fazer os outros felizes, então eu não serei rejeitada: A necessidade de querer agradar a todos o tempo todo é real. E a pressão de viver um relacionamento onde você precisa se anular para fazer o outro feliz também é. E isso também envolve relacionamentos familiares, de trabalho e entre amigos.
- Eu não sou boa para matemática, meninas não lidam bem com os números, eu nunca vou fazer dinheiro o suficiente para me sustentar e sustentar os meus filhos: Com isso as finanças sempre são delegadas aos pais, maridos, namorados, contadores, de forma a não permitir o desenvolvimento de habilidades de negociação junto à fornecedores, instituições bancárias e até mesmo investidores.
- O que vão pensar de mim se eu fizer tal coisa?: Em pleno século XXI, mulheres escolarizadas em posição de liderança, ainda se pegam ouvindo e reproduzindo frases semelhantes. Além de muitas outras, tais como: Não tenho as qualificações necessárias, é tarde demais, não sei por onde começar, não vou conseguir, já tenho inúmeras responsabilidades, isso é coisa para homens...
Estes tipos de questionamentos são prejudiciais à nossa autoestima, a nossa personalidade, aos nossos relacionamentos, e outros campos. As amarras da sociedade patriarcal são tão enraizadas que até mesmo lideranças femininas, ocupantes de espaços de poder, ainda caem em armadilhas do pensar conforme exemplos acima, imaginem as meninas.
A importância de modelos e referência, role models são fundamentais para meninas e meninos e continuam sendo relevantes em todos os momentos das nossas vidas. É verdade também que mulheres não têm a representação que merecem. Como disse Marian Whight Edelman, advogada e proeminente ativista pelos direitos civis nos Estados Unidos: “Você não pode ser aquilo que não vê”. Isso vale quando se tem 5, 10, 22, 45 anos ou qualquer idade. Precisamos mostrar que existem milhares iguais a elas pelo mundo afora, com lindas histórias de superação e grandes conquistas. Ainda estamos em menor número, mas o nosso impacto é extremamente relevante.
Durante a infância sonhamos com inúmeras profissões baseadas em pessoas próximas, ou até mesmo em pessoas vistas em meios de comunicação, tidas como referência, mas se as meninas não enxergam mulheres líderes, à frente de negócios, de estudos científicos, na política, na engenharia, na tecnologia e outros, como acreditar que podem exercer esses papéis quando crescerem?
Se só observarmos mulheres em situação secundária, nunca sonharemos com papéis principais, portanto, se faz indispensável a representatividade de mulheres em espaços de poder, não só em função do caráter educativo para as gerações atuais, mas sobretudo para inspirar as próximas gerações.
As crenças limitantes são uma espécie de desculpa para não fazer o que você realmente gostaria de fazer. Elas nos mantêm na nossa zona de conforto e segurança. Isso pode limitar muito o nosso desenvolvimento pessoal e impedir grandes e significativas conquistas.
Analista Técnica na Sebrae/AP - Serviço de Apoio as Micro e Pequenas Empresas
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