O Meu Maior Exemplo de Superação
Eu nunca pensei que eu ia escrever um artigo sobe a minha mãe

O Meu Maior Exemplo de Superação

Em dezembro de 2018 eu estava recomeçando tudo outra vez (de novo). Sem emprego formal, casamento encerrado, ainda morando na serra gaúcha mas já com os filhos longe. Não era um momento bom, mas o meu eterno desejo de reinvenção batia na porta. Estava prospectando negócios por ali mesmo, em Gramado e Canela, para que eu permanecesse residindo numa das regiões mais lindas do país. Mas o sonho dourado de ter uma rotina com mais qualidade de vida e com menos violência, principalmente para as crianças, tinha desmoronado, junto com um casamento e uma história de quase 20 anos

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Num domingo de manhã, eu estava na casa da grande amiga que Gramado me deu, a também jornalista Suzana Guimarães, tomando um café e lá reencontrei a irmã dela, a nutricionista Ana Laura Guimarães, que eu não via há muitos anos, desde o tempo da Rádio Gaúcha, onde trabalhei como produtor e repórter e ela, como comentarista de programas. Contei que estava pensando em voltar para Porto Alegre, mas que estava em dúvida. A Ana Laura olhou bem nos meus olhos, e com aquele jeito enfático de ser, disse:

- O que tu ainda estás fazendo aqui? Por que não voltou para Porto Alegre cuidar da tua mãe?

E aí ela disse mais uma frase que ecoa na minha cabeça até hoje:

- Quanto tempo achas que tu ainda tens para conviver com ela?


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Aquilo calou muito fundo. Resolvi meus negócios, encerrei meus ciclos na serra, acertei como ficaria minha vinculação com a Rádio Clube FM, onde tenho uma participação com uma coluna semanal até hoje, me despedi daqueles verdadeiros amigos que ganhei lá (entre eles o Braulio Ricardo, na foto ao lado) e voltei para a capital.

Realmente, a Ana Laura tinha razão. Minha mãe disse logo na minha chegada que "tinha muitas saudades de mim", mas não falava nada para não atrapalhar meus planos. Detalhe: minha mãe perdeu a própria mãe, o marido e o filho (meu irmão mais velho) num espaço de seis anos apenas. E ela só tinha a mim. "Eu senti tanta falta de ti", disse ela quando aportei na casa dela no final daquele ano. Quase morri em culpa.

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Eu ainda fiquei uma parte de 2019 morando na minha antiga casa até que decidi ficar com ela em definitivo, ali por março ou abril. E é aqui que essa história fica mais incrível: no dia 12 de julho de 2019, portanto, exatamente um ano atrás, um barulho gigante me arranca da cama logo cedo. A mãe tinha caído e desmaiado, dentro de casa, pois estava pendurando umas roupas e sentiu-se mal. Algo que acontece, aliás, com muitos idosos. Caiu e bateu na cama, aconteceu algo que não sei bem o quê. Nem ela sabe até hoje descrever como ocorreu tudo. Resultado da estrepolia: a mãe quebrou a clavícula aos 88 anos.

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Foram duas internações de hospital, meses na cama em casa, temporada que aprendi a dar banho em idoso, cozinhar coisas diferentes que eu eu não sabia, e levar todas as refeições do dia na cama para ela, alternando com meus cursos, aulas, consultorias. Para sair de casa, eu precisei da ajuda de algumas pessoas especiais que me auxiliaram muito, como a Ione Martins, a Cláudia Oliveira Teixeira e a Lea Krausneck (fotos abaixo), além do meu amor, a Fernanda, que estava do meu lado sempre em todos os momentos (foto nossa, também abaixo). Aliás, foi ela que me ajudou a reerguer a mãe desmaiada do chão para a cama na manhã daquele dia 12 de julho.

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A mãe se recuperava com poucos remédios, de forma conservadora e com sucesso. Ainda fomos mais tarde descobrir um coágulo no cérebro, provavelmente por causa da queda. Um novo susto. Mais hospital, médicos, exames e NOVE tomografias. NOVE. A cada resultado, a preocupação com o que viria. Mas ele diminuiu e desapareceu, já em 2019, aos 89 anos dela. A foto abaixo é da última tomografia - eu fui a todas -, quando ela recebeu a alta do médico Luiz Carlos Alencastro. Eu ia postar em março deste ano de 2020, mas não o fiz, sei lá por quê. Talvez estivesse esperando esse artigo e a superação desses 12 meses.

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Passado exatamente um ano, a Dona Glacy segue me dando (e para muita gente), o maior exemplo de superação que conheço. Próxima dos 90 anos de idade, segue ativa na casa, lavando, cozinhando, cuidando de si e ávida por novidades. Faz palavras cruzadas, Sudoku, olha o Facebook (vai ver o meu post lá sobre esse artigo e vai reclamar que eu não deveria ter feito...), olha as notícias, ouve músicas no YouTube e vê seus programas preferidos na televisão com legendas porque a audição é a única - única - coisa que já não funciona tão bem.

Na pandemia, lamenta cada minuto que "não pode dar uma voltinha", ir no mercadinho do outro lado da rua ou descer para pegar sol no jardim. Mas se vira bem. Está resignada. E construindo uma nova história comigo.

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Obrigado Ana Laura, por aquela frase. Talvez eu não estivesse aqui em Porto Alegre no dia 12 de julho. Obrigado Ione, Claudia, Lea e Fernanda, por atravessar esse tempo difícil comigo. É dia de comemorar mais um renascimento.

Stefan Ligocki

LinkedIn Top Voice 2024 | Palestrante | Especialista em Mercado da Longevidade e Diversidade Geracional | Estrategista de Marca Pessoal | Especialista em LinkedIn | Marketing | Consultor | Mentor de Carreira

4 a

Que belo relato, meu amigo Renato Martins. Não tenho a menor dúvida de que você tomou a decisão certa em passar mais tempo com a tua mãe. Nenhum trabalho do mundo compensaria a ausência dela. Parabéns pelo artigo!

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