O papel da mulher na empresa familiar

O papel da mulher na empresa familiar


Transmitir valores, orientar a carreira dos filhos, mediar conflitos, buscar seu propósito profissional. Nos papéis de mães, esposas e filhas de fundadores, as mulheres ocupam posições estratégicas não apenas dentro das famílias, mas também dentro das empresas. Na Serra Gaúcha, pesquisa do IDEF mostra que 52% das herdeiras querem ser sucessoras do pai e 55% das esposas trabalham na empresa do marido.

Pesquisas mundiais sobre mulheres em empresas familiares evidenciam a naturalidade com que elas assumem cargos estratégicos. Na Serra Gaúcha não é diferente. Em 2017, o Instituto de Desenvolvimento da Empresa Familiar (IDEF) realizou um estudo que, dentre outros dados sobre famílias empresárias da região, apontou que 62% das 103 entrevistadas têm mulheres em cargos de gestão, muitas delas já assumindo os negócios como sucessoras de seus pais.

Neste ano, o IDEF concluiu outra pesquisa, desta vez específica sobre “A Mulher na Empresa Familiar” com o objetivo de entender a participação destas mulheres na construção da Governança Familiar e do Processo Sucessório. “A pesquisa resgatou a importância das mulheres nos papéis de mães, esposas e filhas para a estrutura familiar e para a perpetuação do negócio. É possível observar que por trás de um grande negócio tem sempre uma grande família e uma grande mulher”, reflete Hana Witt, pesquisadora e fundadora do IDEF.

De fevereiro a abril, por meio de questionário online a pesquisa ouviu 82 mulheres, entre esposas e filhas de fundadores de empresas familiares de Caxias do Sul e região. Além disso, entrevistas presenciais foram realizadas para resgatar histórias e compartilhar aprendizados, buscando compreender com mais profundidade os dilemas dessas personagens importantes das empresas familiares da Serra Gaúcha.

A SUCESSÃO – No caso das herdeiras, o estudo revela que 73% das entrevistadas trabalham nas empresas de seus pais há mais de oito anos e 79% consideram que essa ocupação está alinhada ao seu propósito profissional. Para Hana Witt, especialista em Governança Familiar, o maior desafio de uma filha é justamente descobrir seu verdadeiro propósito e suas expectativas profissionais, não se deixando levar pelas emoções e pelos papéis que possam ser impostos pela família no âmbito da empresa. “Algumas delas assumem os negócios da família pelo companheirismo e cuidado que têm com seus pais, e pela responsabilidade com o legado, mas com o passar do tempo se percebem distantes de seu propósito pessoal ou de suas verdadeiras habilidades profissionais”.

A pesquisa do IDEF constatou que apenas 51% das filhas tiveram outra experiência profissional antes de entrar para a empresa dos pais. No âmbito nacional, pesquisas em grandes empresas brasileiras revelam que 73% dos sucessores têm outras experiências profissionais antes de trabalharem com a família, uma prática recomendada pelos especialistas em sucessão. Outro dado interessante do levantamento do IDEF é que 52% das filhas têm a intenção de assumir os negócios dos pais, porém, 72% afirmam que não possuem um plano de carreira estruturado para que ocorra o processo de sucessão.

Daniela Tedesco Betiolo, 42 anos, trabalhou durante 23 anos na empresa do pai, em Caxias do Sul. A experiência lhe trouxe muitos aprendizados, dentre os quais ela destaca a importância de conversar sobre o processo de sucessão. Para ela, mais do que falar sobre isso, é necessário planejar, definir e esclarecer regras, estabelecendo acordos entre todos os envolvidos: fundadores, esposas, herdeiros, sócios. “É colocar isso em prática. Como vai acontecer? De que maneira? Em que momento? São perguntas que devem fazer parte de uma família que administra um negócio. Este aprendizado eu quero levar para os meus filhos, já que hoje sou esposa de fundador de empresa”.

EDUCAR E ORIENTAR OS FILHOS - Na região da Serra Gaúcha, que é essencialmente de empresa familiar, a posição das mulheres é muito estratégica não apenas dentro das famílias, mas nas empresas. A pesquisa mostrou que apesar de 70% das mães terem um negócio próprio, ainda assim, 55% delas desempenham alguma atividade na empresa do marido. Contudo, a grande maioria, 85% das entrevistadas, tiveram outra experiência profissional antes de ingressarem no negócio familiar.

Quando o assunto é sucessão, muitas vezes os filhos procuram a mãe, e não o pai, para falar sobre a carreira. Foi possível observar que os papéis essenciais da mãe na transmissão de valores aos filhos, no acompanhamento na educação e na carreira deles, e na mediação de conflitos estão presentes no dia a dia da maioria das entrevistadas, já que 83% das mães intervêm nos momentos de conflito quando o assunto está relacionado aos negócios, evitando possíveis desentendimentos entre o marido e os filhos.

A pesquisa também questionou as mães quanto à profissão dos filhos, sendo que 55% delas participam do planejamento de suas carreiras, mas não chegam a interferir de forma mais direta em suas escolhas profissionais. “Educamos os nossos filhos, mas sem aquela cobrança de tu vai ser isso ou aquilo. Sempre estávamos atentos a eles, não deixando faltar aula, orientando para que fossem responsáveis desde pequenos, assumindo seus erros. Mas eles ficaram livres para escolher a profissão”, recorda a dona de casa Jucélia Velho, 68 anos, esposa do fundador da Envel Razão Gestão Contábil, Ernani Velho, que conduz os negócios da família com os três filhos, ligados às áreas da administração, engenharia civil e arquitetura.

Os resultados apontam, ainda, que 71% das mães ouvidas procuram discutir sobre as formas de gerir o patrimônio da família, junto ao marido e aos filhos, e 93% delas conhecem os planos futuros da empresa. Para as mães que não trabalham na empresa, que conforme o estudo do IDEF representam 45% das entrevistadas, é essencial que o fundador compartilhe informações. “Mesmo não tendo uma participação direta nos negócios, ela é uma catalizadora de emoções, possui uma visão sistêmica da família e pode contribuir para a tomada de decisões importantes, como a escolha do sucessor ou o momento de transição de comando dos negócios. É ela quem, muitas vezes, ouve as expectativas e desejos dos sucessores e dos sucedidos”, conclui Hana Witt.


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