Prevenção da gravidez na adolescência: responsabilidade de todos
Gestações não planejadas de adolescentes entre 10 e 19 anos são consideradas problema de saúde pública e requer atenção especial da família, sociedade e profissionais
A gravidez na adolescência é considerada a que ocorre entre os 10 e 20 anos de idade, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), ou entre 12 e 19 anos conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90). Historicamente, essa faixa etária é apontada por vários especialistas como um período da vida rico em manifestações emocionais, caracterizadas por ambiguidade de papéis, mudança de valores e dificuldades face à procura de independência pela vida. A gravidez na adolescência é, na grande parte das vezes, encarada de forma negativa do ponto de vista emocional e financeiro das adolescentes e suas famílias, alterando drasticamente suas rotinas.
"Além do transtorno familiar e psicológico, a gravidez na adolescência traz diversos riscos à saúde da mãe e do bebê, como prematuridade, anemia, aborto espontâneo, pré-eclâmpsia e depressão pós-parto", destaca a médica Ana Tamires Perini, coordenadora de ginecologia-obstetrícia do Hospital e Maternidade Municipal Célia Câmara (HMMCC).
A ginecologista reforça que a situação é considerada um problema de saúde pública, principalmente pelo fato de ser maior em populações com menor acesso à educação, serviço de saúde e maior vulnerabilidade social, e aponta a disseminação de conhecimento como solução. "Educação é a chave para prevenção. Informações sobre educação sexual, acesso facilitado a serviços de planejamento familiar, são medidas eficazes. Por isso, é necessária articulação de parcerias intersetoriais com desenvolvimento de ações educativas", pontua.
Dados
De acordo com referências do IBGE, em 2020, 33% da população brasileira é composta por crianças e adolescentes, sendo que aproximadamente 81% deles vivem na zona urbana, enquanto 18%, na zona rural do país.
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"A realidade é preocupante e desafiadora, pois se por um lado esta faixa etária corresponde a um terço da população brasileira, por outro lado o percentual de nascidos vivos de mulheres de zero a 19 anos de idade é de 14,7%, ou seja, menos de um quinto", assinala Aline Pontes, responsável-técnica do Serviço Social do Hospital e Maternidade Dona Íris (HMDI)
Também conforme o IBGE, um em cada cinco bebês nasce de uma mãe com idade entre 10 e 19 anos, representando 18% dos nascimentos. A assistente técnica do HMDI assinala que esses dados refletem as enormes desigualdades e a carência de políticas públicas de saúde no Brasil, o qual permanece como um dos países com maior desigualdade social e de renda do mundo. "Vários fatores contribuem para a gestação entre as adolescentes, como o uso inadequado de métodos contraceptivos, o uso de métodos pouco eficazes, e a falta de acesso e de conhecimento que contribui para concepção não planejada nessa fase da vida", afirma Aline.
Planejamento Familiar
A educação sexual e o livre acesso a métodos contraceptivos diminuem o número de gravidezes não planejadas. Embora todos os métodos contraceptivos possam ser usados por adolescentes, os mais eficazes a diminuir o número de gravidezes na adolescência são os métodos reversíveis de longa duração, como os implantes, dispositivos intrauterinos ou anéis vaginais. A disseminação de informações sobre esses métodos contraceptivos, cuidados com a saúde da mulher e o incentivo à gravidez planejada fazem parte dos programas de Planejamento Reprodutivo oferecidos por algumas instituições, e em breve disponível para as usuárias do SUS no HMDI.
“Vemos a realidade de muitas adolescentes que engravidam e voltam grávidas em curto período de tempo, e almejamos um programa que ofereça todo leque de planejamento reprodutivo eficaz. Temos que mudar essa realidade, temos que fazer algo para mudar”, diz a ginecologista obstetra e diretora-geral do HMDI autora do projeto na unidade, Marta Finotti.
A médica ressalta que a iniciativa envolve atividades educativas, assistência multiprofissional e disponibilização de métodos anticonceptivos como distribuição de camisinhas, anticoncepcionais e implantação de DIU, e deverá ser iniciada em meados de abril de 2022.
Por Monique Pacheco, assessora de comunicação da FUNDAHC comunicacao@fundahc.com.br