Seu produto digital inclui ou exclui pessoas que se comunicam em Libras?

O Dia Nacional de Libras é um convite para o debate: os produtos digitais são acessíveis para pessoas com deficiência auditiva falantes de Libras? Hoje, vamos refletir sobre iniciativas que podem trazer acessibilidade para seu produto incluir essas pessoas, confira!

Em 2002, no dia 24 de abril, foi aprovada a Lei de Libras, que reconheceu a Língua Brasileira de Sinais como meio legal de comunicação e expressão no país. Desde então, a data é conhecida como o Dia Nacional de Libras. 

Cerca de 10 milhões de pessoas têm algum grau de dificuldade auditiva no Brasil e 40% delas, em média, são falantes de Libras. Esse número representa uma parcela formada por uma média de 4 milhões de indivíduos, muitos usando a internet e suas infinitas possibilidades todos os dias - com base em material analisado pela Geledés. 

Mas será que o conteúdo oferecido na Web brasileira consegue se comunicar com essas pessoas? E os produtos digitais, como softwares e aplicativos? 

De acordo com o Movimento Web para Todos (MWPT), 96,79% dos 16,89 milhões de sites brasileiros apresentam alguma falha de acessibilidade; entre os aplicativos, 10 milhões foram avaliados no estudo e menos de 20% cumprem pelo menos um critério de acessibilidade.

Isso mostra que ainda temos um longo caminho a percorrer rumo a uma sociedade de fato mais inclusiva para pessoas com deficiência auditiva e falantes de Libras. 

Para refletirmos sobre as possíveis ações que empresas podem assumir nessa jornada, conversamos com a Wanessa Teotônio , Product Owner e referência aqui na Rethink quando o assunto é acessibilidade, confira!

1. Como a acessibilidade se tornou seu foco de estudo?

Em 2017, eu iniciei o mestrado em Ciência da Computação. No primeiro semestre, quando eu estava na fase de definição do tema da dissertação, fui convidada para atuar como pesquisadora de um projeto para um Centro de Pesquisa, Tecnologia e Inovação, que tem foco em desenvolvimento de produtos digitais acessíveis. 

Eu comecei a trabalhar neste Centro de Pesquisa e passei a estudar e aprender muito sobre o tema, eu realizava muitas avaliações de usabilidade e acessibilidade de sistemas, tínhamos quase 50 pessoas com deficiência no time e muitos projetos de pesquisa sendo desenvolvidos. 

No decorrer deste trabalho encontramos muitas barreiras de acessibilidade na Web e senti a ausência de muitos recursos básicos. A partir daí, assumi o desafio de criar uma ferramenta que tornasse a Web mais acessível e tem sido um projeto muito produtivo. 

Hoje, tenho produções científicas publicadas (um artigo e uma dissertação de mestrado) e tenho participação na ideação e criação de mais de 7 produtos acessíveis. Trabalhei no Centro de Pesquisa durante 5 anos.

2. Qual dica você daria para quem quer começar a se aprofundar em acessibilidade digital?

Eu acredito que o primeiro passo é o desenvolvimento da empatia, é aprender e entender as diferentes necessidades que as pessoas possuem e que existem também diferentes formas de interação. 

Entender como pessoas cegas, com baixa visão, surdas, com dificuldades de mobilidade, cognitivas, e outras, interagem com os elementos dos sistemas e com os dispositivos. Aprender sobre a usabilidade da pessoa com deficiência. 

Em seguida, é muito importante entender o que são e como funcionam as tecnologias assistivas, como por exemplo os leitores de telas utilizados por pessoas cegas. 

Tendo essa percepção, você deve aprofundar esse conhecimento entendendo a importância e a função de cada recurso de acessibilidade e como aplicá-los nos sistemas digitais. 

Uma boa referência de aprendizado são as Diretrizes de Acessibilidade para Conteúdo da Web (WCAG, do inglês Web Content Accessibility Guidelines).

3. Quais são as melhores inspirações para quem busca produtos digitais mais acessíveis?

Eu costumo defender que a melhor inspiração para quem busca entender mais sobre acessibilidade é conversar e aprender com as pessoas com deficiência, que passam por essas situações no seu dia-a-dia, seja no processo de matrícula de um curso na universidade, na realização de uma compra no aplicativo ou website, na visualização do extrato bancário, entre outras atividades. 

Felizmente, as empresas estão desenvolvendo uma cultura mais inclusiva e melhorando a acessibilidade de seus sistemas, temos cases com bastante sucesso como o caso da empresa O Boticário, que desenvolveu um catálogo acessível e aumentou consideravelmente seu número de acessos, e do Centro de Pesquisa Lead Dell, que foi onde trabalhei e é minha principal referência de acessibilidade digital.

4. Quais são os principais desafios enfrentados por pessoas com deficiência auditiva que se comunicam em Libras e que usam produtos digitais no Brasil?

O grande desafio é a ausência de tradução de conteúdo para Libras. 

Grande parte das pessoas surdas têm como idioma nativo Libras e o Português como segundo idioma. Portanto, é comum pessoas surdas encontrarem dificuldades de compreensão quando estão diante de um texto muito longo ou de um conteúdo que possui um vocabulário mais formal sem a disponibilização de uma versão em vídeo com intérprete de Libras. 

O ideal é termos um intérprete humano que faça essa tradução, mas os sistemas também podem contar com o apoio de avatares que realizam a tradução através da integração de um sistema de tradução com os websites, como é o caso do VLibras, disponível gratuitamente.

5. Quais as vantagens de produtos digitais acessíveis para todas as pessoas?

Eu reforço muito que devemos abandonar esse usuário “padrão” que conhecemos e devemos sempre criar produtos pensando na acessibilidade. Sempre! 

Quando você pensa e cria um produto digital acessível, você está englobando as pessoas com deficiência, mas não somente. Você também facilita a vida: 

• das pessoas que possuem dificuldades de interação decorrentes do processo natural de envelhecimento; 
• das pessoas que estão com alguma dificuldade temporária por causa de um acidente; 
• de uma pessoa que está carregando muitas sacolas e é favorecida por uma funcionalidade de comando de voz; 
• das que estão sem fones de ouvido no ônibus ou algum local público e são favorecidas pelo oferecimento de legenda em um vídeo; 

E muitas outras pessoas em diferentes situações. Acessibilidade é para todos nós.

6. Você pode citar os principais critérios para um produto digital acessível 

para pessoas que se comunicam em Libras?

O mais importante de todos os critérios é oferecer o conteúdo contendo a opção de vídeo com a tradução do conteúdo em Libras. 

Disponibilizar os conteúdos da Web de forma intuitiva, adotando uma linguagem simples e amigável, evitando formalidades desnecessárias ou exageradas, também facilita a compreensão. 

Também é muito recomendado a utilização de iconografia e imagens intuitivas, já conhecidas e familiares por todos os usuários.

7. Como as empresas podem garantir a aplicação de acessibilidade em seus produtos digitais?

É fundamental que as empresas compreendam que a acessibilidade deve ser considerada em todos os seus processos, de ponta a ponta, em todas as áreas. 

A empresa deve promover debates, compartilhar conhecimento e incentivar a capacitação dos seus colaboradores. 

É preciso capacitar todos, desde o time que está negociando a venda do produto, como forma de fortalecer a parceria, envolver os clientes e cumprir leis federais, passando pela contratação de pessoas, até chegar nas fases de ideação e desenvolvimento do produto. 

Cada área deve entender suas responsabilidades e se comprometer com a acessibilidade deste produto. 

Aqui na Rethink, temos o Comitê de Diversidade e Inclusão, que está promovendo uma iniciativa com o objetivo de envolver todas as áreas da empresa para criar nossas diretrizes de desenvolvimento acessível, e capacitar os colaboradores conforme suas atividades no processo de desenvolvimento do produto. Isso vai de encontro com a nossa principal missão é criar produtos digitais que todas as pessoas amam usar.  

E então, seu produto digital está incluindo ou excluindo pessoas com deficiência como as que falam Libras? Comenta aqui qual a principal dificuldade que você tem desafiado para tornar a Web acessível?

Juntos, podemos repensar a acessibilidade digital e encontrar soluções para produtos mais inclusivos! Entre em contato com a gente. 

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