Eu não preciso de mais de 2 minutos de jogo para escrever uma bíblia sobre Tomb Raider XD.

Como eu citei na análise do I-III Remaster, eu cresci jogando Tomb Raider desde 1996, inclusive, uma curiosidade que Tomb Raider IV The Last Revelation foi meu primeiro jogo original de PC lá em 2000 no tempo da saudosa CD Expert comprada numa das idas até o Carrefour.

Então novamente o core dos games se manteve intacto, você pode escolher entre a jogabilidade tank clássica (recomendo com ressalvas que vou citar mais abaixo) ou a moderna LAU (Legend, Anniversary, Underworld), onde vc tem controle total da câmera com o analógico direito (isso no controle). E claro alterar entre os gráficos originais e remasterizados com o apertar de um botão, o trabalho que já tinha sido bom no I-III aqui ficou espetacular, com muito mais detalhes nos cenários e inimigos.
Essa coleção como o nome já diz traz a remasterização de TR IV, V e VI, vamos destrincha-los brevemente abaixo

TR IV Last Revelations, o favorito de MUITA gente e com razão (ainda tenho o II como melhor mas o IV vem logo atrás XD ), começa com Larinha de 16 anos ainda uma estudante sobre a tutela do professor Werner Von Croy, no level que serve de tutorial para os novos movimentos, agora Lara por escalar cordas e usa-las para se balançar por vãos além de subir em pilares. No presente, Lara está no Egito, quando ela recupera o Amuleto de Hórus e no processo acaba sem querer querendo, libertando o espirito aprisionado de Seth. Agora cabe a Lara consertar as coisas.

Muitos dizem que Last Revelations tem uma progressão meio “metroidvania”, o que é um tanto verdade, você vai e volta por algumas fases depois de explorar outras abrindo um novo caminho, não é nada extraordinário, mas para os padrões de 1999? Bem interessante e cheio de fases memoráveis.

Chronicles, o V jogo começa com a suposta morte de Lara no final de Last Revelation, o jogo é basicamente o mesmo, de movimentos novos agora Lara pode se equilibrar em cordas bambas, Chronicles é um compilado de memórias passadas de Lara contadas através de seus amigos mais próximos, ele tem algumas fases legais apesar de grande parte parecer só reciclagem de outros mapas dos anteriores, destaque é para as últimas missões que são mais “inéditas”, principalmente Red Alert considerada uma das fases mais difíceis da franquia até hoje, trazendo um tom bem diferente da exploração de tumbas e mausoléus como dos outros jogos para um setting “Matrix” mais moderno, aliás 2001 quando Chronicles lançou, era o ano de Matrix kkkk.

E aí chegamos na cereja do bolo desse remaster

Tomb Raider VI ou Angel of Darkness

Angel of Darkness teve um desenvolvimento bem conturbado, numa nova engine a equipe da Core Design tinha a missão de trazer Lara para a nova geração no PS2, e digamos que eles tentaram dar um passo maior que a própria perna conseguia alcançar.

Com um tom bem diferente e mais dark, dessa vez temos Lara que era dada presumidamente como morta chegando em Paris a mando do também então dado como morto Von Croy contratado por Echkard para obter um artefato chamado de Obscura Paintings. Ao chegar em Paris, Lara descobre misteriosos assassinatos cometidos por um serial killer chamado de “Monstrum” entre os locais, e para desgraçar tudo, Von Croy é uma dessas vítimas, e agora Lara é tida como a principal suspeita pela morte de seu antigo mentor.

No conceito original, AOD teria uma progressão similar à de um RPG, onde certas ações suas no jogo controlando Lara renderiam skills que seriam usadas para abrir determinados caminhos e novos movimentos, essas skills vieram para substituir chaves e outros itens que eram usados em portas, no papel a idéia era muito boa.

O problema veio na prática, quando a equipe foi apressada para concluir o game a tempo de acompanhar a estreia de Lara nos cinemas com o primeiro filme da Angelina Jolie, e oq recebemos foi um game onde muitas das ideias que haviam sido planejadas, chegaram incompletas, sem contar os inúmeros bugs, o sistema de “barra de skill” ainda estava presente mas acabou se tornando mais um empecilho no caminho do jogador, vc precisava arrastar uma caixa para ganhar força e assim conseguir chutar uma porta para entrar num caminho que não era mais opcional, e sim obrigatório, em outro caso, onde teríamos opção de usar lojas com npcs para comprar armas, itens e munições foi completamente descartada da versão final tornando aquela rota sem sentido.

Mas entrando no remaster de 2025 é com água nos olhos que eu conto que muito do conteúdo que foi cortado conseguiu ser resgatado ou parcialmente resgatado, com ajuda de fans e modders do AOD original, o próprio time do remaster recomenda jogar AOD com os controles modernos pois os movimentos, como o de encostar na parede e atirar por cobertura nos inimigos, agora funciona, e é melhor com esse esquema de controles.

A loja de penhores e itens das ruas de Paris também foram recuperadas. Além da área de treino que pasmem tinha sido cortada do original e ensinaria o novo movimento de rastejar, agora voltou a existir no remaster.
AOD certamente é o grande destaque dessa trilogia, é um jogo extremamente injustiçado que finalmente recebeu o tratamento que merecia ter tido , mesmo que 23 anos depois.

Alias vale citar que Angel of Darkness está DUBLADO, assim como aconteceu com o remaster de Soul Reaver, AOD foi um dos games que receberam dublagem no lançamento original de PC e o pessoal da Aspyr / Saber trouxeram a dublagem para o remaster dessa vez sem necessidade de gambiarras XD

Já alonguei bastante por aqui, apenas pra recomendar o trabalho da equipe mais uma vez, que já foi excepcional com I-III e conseguiu elevar ainda mais o nível com IV-VI.

E finalmente chegamos a versão 1.0 de Session.

Session é um simulador de skate que começou a ser financiado no Kickstarter por volta de fim de 2014 começo de 2015, produzido pelo então estudio independente Crea-Ture Studios o game era visto como um revival dos jogos de skate, que já teve inúmeras opções, mas que desde 2010 estava hibernado depois que a EA fechou a BlackBox antiga produtora da série Skate. Junto com Session, outro game despontava no horizonte dos games indie, esse game era Skater XL da EasyDay Studios. Com o tempo se criou uma certa briga, na minha opinião estúpida, entre jogadores de ambos os games, porém aqui não vou entrar em méritos de comparação e falarei apenas do Session.

Eu tenho atualmente 32 anos comecei andar de skate com 7, isso são 25 anos atrás, ao contrário da molecada que preferia bola ou soltar pipa e jogar pião na rua o meu negócio era as 4 rodinhas, morava numa rua com pouco movimento, lisinha, foram anos criando amizades através do skate, aprendendo manobras e se ralando no processo, e claro a paixão pelo carrinho começou pelos games, principalmente o primeiro THPS e o arcade Top Skater. Eu já joguei de Trasher até Simpsons Skateboarding e games em mobile, basicamente qualquer game com Skate envolvido eu já experimentei pelo menos 30 minutos. Poderia dizer que Session é o melhor game já lançado abrangendo o mundo do skate ? Com certeza ! Não é perfeito mas isso, nenhum jogo é.

Session usa um sistema próprio de controles adaptando o Flick-It da EA para uma versão aprimorada que permite uma gama maior de manobras, cada analógico representa um pé do personagem, direito e esquerdo, e para realizar as manobras vc deve recriar nos analógicos, o movimento que o seu pé faz em cima do Skate, direito pra baixo e esquerdo pra esquerda para fazer um flip, Session permite realizar manobras como Pressure Flips (onde vc força os lados do skate e tira o pé da base para ele virar sem bater um ollie, até mesmo Caspers e Primos além dos Darkslides. Por contratempos internos a versão 1.0 chegou sem manobras de Grab, coisa que de acordo os devs ainda será adicionado futuramente. Mas trouxe de maneira experimental as manobras de transição em mini ramps.

O game traz a recriação de pontos importantes do skate em 3 cidades que se tornaram icônicas para a era dos anos 90 começo de 2000 no Skate, Nova Iorque, Filadélfia e São Francisco , todas extremamente detalhadas e precisas graças ao poder da Unreal 4, temos desafios históricos que consistem em recriar manobras realizadas nestes locais por profissionais na vida real, esses desafios rendem dinheiro para gastar na skateshop da cidade, quem curte ver os vídeos antigos já pode ter na cabeça uma boa gama de manobras para tentar realizar e mesmo aqueles que nunca viram uma videopart de skate na vida, poderão descobrir (ou pegar um guia, não te julgo) as manobras sem muito esforço, cada desafio histórico vem tbm com um comentário do ano e vídeo em que aquela manobra aparece, seria legal ter um vídeo real mostrando, mas claro, isso envolveria muito copyright a ser pago.

A customização do jogo é enorme. Inúmeras marcas famosas como Zero, És, Flip, Element, Adidas estão presentes, e promete ser expandida com mais conteúdo programado para o futuro. E ela não vai apenas a uma quantidade absurda de roupas, peças e acessórios. Toda seleção de peças do seu skate não é apenas cosmética e influencia um pouco no seu gameplay. Rodas muito grandes num truck muito baixo podem raspar no shape e te fazer perder velocidade, um truck muito estreito é mais difícil de travar em um corrimão com precisão, enquanto um muito largo vai te fazer balançar para os lados sendo mais difícil se manter em cima.

O game também possuí um menu de stats que permite configurar toda maneira como seu jogo acontece, alterando gravidade do personagem, velocidade, até coisas extremamente minuciosas como o jogo dos trucks do skate deixando mais mole ou mais duro, fricção de rodinhas, fricção do ar nas manobras, velocidade do giro do flip, claro, se tudo isso te espanta, vc não precisa mexer em nada disso para curtir apenas a história principal do game.

Não espere uma obra digna de um nobel no quesito história, ela é o básico que se espera de um game do estilo. Um cara amador tentando virar profissional. Ela serve como um tutorial às mecânicas do game, e ingressar o jogador na cultura do skate, e faz isso com maestria, mostrando como a criatividade deve ser usada em momentos onde um local parece não ser propício a nada, e interagindo com uma lista bem variada de profissionais do esporte que emprestam seus nomes e rostos ao game. Onde o jogo brilha mesmo é nos já citados desafios históricos, uma lista considerável de manobras para serem recriadas, além de ter um sistema de criação de replay extremamente robusto que lhe permite filmar vídeo parts extremamente realistas.

Dito isso, é correto falar que Session pode não ser exatamente convidativo se vc só espera um game com missões, começo meio e fim como Skate da EA é, ou Tony Hawk's na geração passada. Session é um simulador voltado principalmente para quem curte o esporte fora dos games, pra quem cresceu assistindo as fitas vhs e abrindo as edições mensais da Tribo e 100% Skate. Não existe um sistema de score em Session, vc deve decidir se está satisfeito com ela aquela manobras ou repeti-la até que ela saia do jeito que vc queria.

Session resgata os desafios de andar de skate e aperfeiçoar suas habilidades com maestria, não é um game exatamente fácil para quem nunca experimentou outros games do gênero, e pode até espantar um pouco pela dificuldade no começo, mas se vc curte o esporte não apenas nos games, mas tbm fora deles, de uma chance. Para quem infelizmente já passou da idade de ter tempo disponível para se dedicar ao esporte na vida real, pratique no virtual, mas nunca deixe a paixão morrer. Não espere um game que vai te pegar pela mão ou até mesmo fazer as coisas automaticamente, é difícil sim de pegar o jeito em Session, assim como é em um skate real, mas depois que vc pega, a sensação de superar os desafios e completar o game é a melhor possível.