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UNESCO promove missão internacional de emergência para avaliar situação do patrimônio cultural no Rio Grande do Sul

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) anunciou uma missão internacional de emergência, que percorrerá diversos equipamentos culturais estaduais, com o objetivo de avaliar os danos causados aos bens culturais e arquivos do Rio Grande do Sul pelas enchentes que atingiram o estado nos últimos meses.
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O lançamento da missão, promovida com recursos do Fundo de Emergência do Patrimônio da UNESCO (UNESCO Heritage Emergency Fund), contou com a participação da diretora e representante da UNESCO no Brasil, Marlova Jovchelovitch Noleto, da secretária da Cultura do Rio Grande do Sul, Beatriz Araújos, do governador do estado, Eduardo Leite, e do Rafael Passos, superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) Rio Grande do Sul. 

O Fundo financiará a visita de especialistas nacionais e internacionais da UNESCO ao Rio Grande do Sul, para realizarem avaliações detalhadas da situação do patrimônio cultural do estado atingido pelas enchentes e proporem ações para o resgate e a recuperação de arquivos, itens e coleções do patrimônio local. A missão técnica será formada pelos especialistas internacionais Andrea Richards, historiadora e arqueóloga de Barbados, e Samuel Franco, socorrista cultural da Guatemala. Os especialistas ficarão até o dia 19 no estado.

A missão promoverá a troca de ideias e o compartilhamento de experiências entre a comunidade local e os especialistas internacionais, que já atuaram em diversas emergências culturais ao redor do mundo. Andrea Richards apoiou a gestão de crise em contextos de emergências culturais causadas pela mudança climática, assim como decorrentes do ciclone Freddy, no Malaui; do furacão Lisa, em Belize; do furacão Maria, na Ilha de Dominica, e do furacão Irma, nas Ilhas de Antígua e Barbuda.  Samuel Franco, que já atuou em emergências culturais em diversos continentes, é presidente do Conselho Internacional de Museus (ICOM) Guatemala, presidiu o ICOM América Latina e Caribe e é membro do Comitê Permanente do ICOM para Gestão de Riscos de Desastres. Entre os profissionais nacionais estão: Eneida Braga, especialista em gestão pública com foco em museus e equipamentos culturais, que tem grande experiência na defesa dos interesses dos museus brasileiros. Ela atuou no desenvolvimento da Política Nacional de Museus (PNM), na elaboração do Estatuto de Museus e na criação do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), além de ser comissária titular do Patrimônio Cultural na Comissão Nacional de Incentivo à Cultura; e Janaína Hirata, especialista em educação e gênero, com graduação em psicologia social e mestrado em educação e desenvolvimento internacional, que tem uma vasta experiência em contextos de crises prolongadas, com ênfase em situações de emergência, segurança escolar, apoio psicossocial (APS) e aprendizagem socioemocional (SEL) nas escolas. 

Ações financiadas

Como parte desses esforços, a UNESCO realizará uma série de ações financiadas pelo Fundo de Emergência do Patrimônio, que se estenderão até dezembro deste ano. Entre elas, oficinas online que apoiarão a capacitação das comunidades locais para o resgate e a recuperação de itens de acervo, arquivos de museus e outros equipamentos culturais, e a criação de um manual com esses conteúdos, para ampla divulgação e consulta.  

De acordo com diretora e representante da UNESCO no Brasil, a aprovação do Fundo de Emergência do Patrimônio para o Rio Grande do Sul representa um passo significativo para a preservação do rico patrimônio cultural desse estado brasileiro, que foi duramente afetado por enchentes e desastres naturais. 

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Este fundo permitirá que a UNESCO e seus parceiros trabalhem em estreita colaboração com as comunidades locais para proteger e recuperar os tesouros culturais que são fundamentais para a identidade e a história desta região. Nós estamos comprometidos em fornecer assistência pronta e eficaz para garantir que o patrimônio do Rio Grande do Sul seja preservado para as gerações futuras.

Marlova Jovchelovitch NoletoDiretora e Representante da UNESCO no Brasil

Desde o final de abril de 2024, o estado do Rio Grande do Sul, o mais meridional do Brasil, tem enfrentado enchentes sem precedentes e condições climáticas extremas, que atingiram 478 municípios, com alguns deles ficando quase submersos. Até o início de julho, mais de 2,3 milhões de pessoas haviam sido afetadas no estado, que também registrou 182 mortes e mais de 735 mil pessoas desalojadas.  

O setor cultural gaúcho também foi significativamente atingido. De acordo com o governo estadual, 50 museus foram afetados pelas enchentes, com danos que vão da destruição completa à infiltração de água, danos no telhado e transbordamento de calhas. Os danos aos equipamentos e coleções foram severos e ainda não estão contabilizados.  

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É muito importante manter vivos os elementos culturais, que são fundamentais para a nossa identidade e geram senso de pertencimento, que é tão essencial, inclusive em momentos de crise como os que passamos. É muito bem-vinda essa parceria com a UNESCO.

Eduardo LeiteGovernador do Rio Grande do Sul

Para enfrentar a situação emergencial, o Ministério da Cultura (MinC) criou uma Rede de Mapeamento e Recuperação do Patrimônio Tangível, Museus, Coleções Arqueológicas e Arquivos no Rio Grande do Sul e uniu esforços das autoridades governamentais nos âmbitos nacional, estadual e municipal, assim como da sociedade civil e de organizações internacionais. Essa rede de emergência multissetorial é composta pelo MinC, pelo Ibram, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), pelo Arquivo Nacional, por universidades públicas e pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul, pelo Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos) Brasil e pela UNESCO. 

Fizemos inúmeras viagens às cidades afetadas e temos um levantamento da situação dos equipamentos culturais. Com essas informações, poderemos facilitar o trabalho da UNESCO. Nossa equipe está à disposição para acompanhar os especialistas. Além disso, estamos desenvolvendo políticas públicas e lançaremos editais que poderão apoiar os municípios que tiveram equipamentos culturais danificados.

Beatriz AraújoSecretária da Cultura

O Fundo de Emergência do Patrimônio, com sua missão de proteger o patrimônio cultural em momentos de crise, desempenhará um papel crucial na resposta às necessidades pós-enchente no Rio Grande do Sul. Com a aprovação desse fundo, a UNESCO reafirma seu compromisso de fortalecer a capacidade dos Estados-membros quanto à preservação da herança cultural e à promoção da diversidade cultural, mesmo diante de adversidades. 

Sobre o Fundo de Emergência do Patrimônio

O Fundo de Emergência do Patrimônio, um fundo multidoadores que tem em vista a proteção da cultura em situações de emergência, foi estabelecido pela UNESCO em 2015 para responder de forma eficaz a crises resultantes de conflitos armados e desastres. O Fundo financia atividades nas áreas de preparação e resposta a emergências nos domínios das Convenções Culturais da Organização.  

A UNESCO trabalha com seus Estados-membros para fortalecer suas capacidades de prevenir, mitigar e recuperar as perdas de patrimônio cultural e diversidade em situações de emergência, além de promover a integração da proteção da cultura em ações humanitárias, estratégias de segurança e processos de construção da paz, incluindo o aproveitamento do potencial da cultura para fortalecer a resiliência e apoiar a recuperação. 

Fotos do evento

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