O rádio e a paz
O tema da 12ª edição do Dia Mundial do Rádio, que será celebrado em 13 de fevereiro de 2023, é “O rádio e a paz”.
“Guerra”, como antônimo de “paz”, significa um conflito armado entre países ou entre grupos dentro de um país, mas também pode se traduzir em um conflito de narrativas midiáticas. A narrativa pode aumentar as tensões ou manter as condições para a paz em um determinado contexto, como, por exemplo, dar ênfase à condução difícil ou tranquila de uma eleição, rejeitar ou integrar pessoas repatriadas, aumentar ou moderar o ânimo nacionalista etc. Ao produzir relatos ou informar o público em geral, as estações de rádio moldam a opinião pública e emolduram uma narrativa que pode influenciar as situações nacionais e internacionais, assim como os processos de tomada de decisão.
O rádio pode até mesmo alimentar conflitos, mas, na realidade, o rádio profissional atenua divergências e/ou tensões, evitando sua escalada ou promovendo negociações com vistas à reconciliação e à reconstrução. Em contextos de tensão distante ou imediata, os programas pertinentes e o trabalho independente de reportar notícias fornecem a base para uma democracia sustentável e para a boa governança, ao reunir evidências sobre o que está acontecendo, ao informar os cidadãos a respeito em termos imparciais e com base em fatos, ao explicar o que está em jogo e ao negociar o diálogo entre os diferentes grupos sociais.
“... uma vez que as guerras começam na mente dos homens, é na mente dos homens que as defesas da paz devem ser construídas”. [1]
Essa é a razão pela qual o apoio à independência do rádio deve ser visto como uma parte essencial da paz e da estabilidade. No Dia Mundial do Rádio de 2023, a UNESCO destaca o rádio independente como um pilar para a prevenção de conflitos e para a construção da paz.
O rádio na prevenção de conflitos e na construção da paz
O rádio é um meio importante e uma parte essencial da manutenção da paz e, em certas situações, da transição para a paz. Fazem parte de suas funções agendar e prestar serviços essenciais para trazer à tona assuntos de interesse, apresentar temas que mereçam a atenção de autoridades e cidadãos e dar-lhes relevância.
O rádio profissional aborda, por meio de uma programação específica e de escolhas editoriais, tanto as causas profundas quanto os eventos que desencadeiam conflitos antes que eles explodam em violência. Os programas pautados em questões relevantes, por exemplo, ajudam a lançar luz sobre inadequações sociais, desequilíbrios estruturais, pobreza, recursos ou disputas de terra, corrupção, corrida armamentista etc., ao relatar e explorar hipóteses de fatores subjacentes de conflito por meio de padrões jornalísticos. O conteúdo editorial de uma estação de rádio também pode alertar para eventos com potencial para desencadear hostilidades, como erros de cálculo, aumento de propaganda, recrudescimento de controvérsias específicas, escalada de tensões em determinadas áreas etc. Além disso, tal conteúdo oferece métodos alternativos de prevenção de conflitos, ao esclarecer mal-entendidos ou choques de interesses, identificar questões de desconfiança... Tudo isso pode ajudar a combater o ódio, o desejo de vingança ou a vontade de pegar em armas.
Não são as reportagens instantâneas de rádio que contribuem para a prevenção de conflitos e para a construção da paz, mas sim a responsabilidade dos profissionais do meio para com os cidadãos, a verificação de fatos, a precisão, as reportagens equilibradas e a investigação jornalística por trás de cada noticiário e de cada programa. A autonomia com relação a influências comerciais, ideológicas ou políticas potencializa o rádio em seu papel de vetor que leva à paz. Além disso, as variadas técnicas colaborativas dos programadores de rádio também reforçam a cultura do diálogo, por meio de programas e formatos participativos como participações ao vivo, talk shows e fóruns de ouvintes, entre outros; todos esses formatos oferecem oportunidades para se debater ao vivo questões latentes, inclusive divergências, de forma democrática.
Assim, o rádio profissional independente fortalece a democracia e fornece a base para uma paz sustentável. Portanto, ele deve ser incluído com mais frequência nas estratégias de prevenção de conflitos e consolidação da paz, assim como ser um foco decisivo da assistência à mídia.
Apoio às rádios independentes
A história dos serviços prestados à sociedade pelo rádio mostra que a melhora dos padrões jornalísticos e o aumento das capacidades do meio devem ser vistos como um investimento na paz. O apoio pode ser fornecido de várias maneiras: por meio de financiamento de emergência ou assistência estrutural ao setor de rádio, com a promoção de legislação e regulamentação adequadas; pelo fomento do pluralismo e da diversidade do rádio; pela salvaguarda de sua independência; pela redução da cobrança de impostos; pela viabilidade financeira de modo geral, e assim por diante.
Do contrário, corre-se o risco de que o rádio, de maneira intencional ou inadvertida, entre na dinâmica do conflito devido a uma frágil política editorial, à lealdade a um determinado líder político ou proprietário, à censura, à vigilância, à autocensura, a leis antiterrorismo, ao crime organizado...
O aumento do apoio às rádios independentes deve ocorrer em reconhecimento à sua importância para a paz – e deve acontecer agora.
[1] Constituição da UNESCO. Aprovada em Londres, em 16 de novembro de 1945.