Publicação de Maira Liguori

Você já ouviu falar do termo "woke ou anti-woke" ? Quais são os impactos dessas temáticas internacionais no nosso país? Confira o artigo escrito por Natalia Paiva (Diretora-Executiva do Mover) sobre esse tema e entenda como o que vem acontecendo especialmente nos EUA, reflete na luta pela equidade aqui no Brasil.

No Brasil tem-se usado de maneira acrítica termos como "anti-woke" e reproduzido notícias de como empresas nos EUA têm reduzido suas iniciativas de diversidade sem olhar para o que essas mesmas empresas têm feito por aqui. Ao meu ver isso provoca um desserviço ao debate público, principalmente no recorte de equidade racial. Primeiro ponto: não existe "woke" ou "anti-woke" na nossa realidade. No Brasil, temos uma demografia que inclui 56% de pretos e pardos, enquanto nos EUA esse número é de apenas 14%. Além disso, nosso arcabouço jurídico é robusto no reconhecimento de ações afirmativas: cotas no ensino superior foram declaradas constitucionais pelo STF, e diversas instâncias já julgaram favoravelmente políticas públicas e privadas que promovem a equidade. O debate político também é diferente — enquanto nos EUA questões raciais são fortemente polarizadas, estudos mostram que o gap entre petistas e antipetistas sobre justiça racial é muito menor (Partisan Stereotyping and Polarization in Brazil, paper publicado pela Cambridge University Press). Segundo ponto: muitas vezes, há uma grande diferença na abordagem de empresas no Brasil e nos EUA em relação a essa agenda e isso se deve aos contextos distintos em que essas organizações operam. Claro, algumas empresas nunca colocaram a busca por equidade como um valor central e aproveitaram o atual momento para um desembarque; mas em muitos casos trata-se de uma adaptação ao ambiente político-regulatório de lá, não um desembarque em si, mas, mais que isso, não implica mudanças globais. Nos EUA, a reversão da Suprema Corte em 2023 sobre ações afirmativas no ensino superior geraram um efeito cascata, influenciando o zeitgeist conservador e trazendo implicações legais, cenário catalisado com a eleição de Donald Trump. No Brasil, apesar de estarmos conectados a tendências globais, seguimos outro caminho. O Brasil não deve importar as particularidades políticas domésticas dos EUA. Temos nossa própria história e trajetória civilizatória. Não se trata de ignorar o que acontece no mundo, mas de reconhecer que nossos desafios e conquistas são específicos. Precisamos manter o foco em nossa realidade, criando caminhos para um país mais justo e equânime, respeitando nossas diferenças e contextos.

No ESTADÃO de hoje, a sócia-fundadora da Alandar e diretora-executiva da >MOVER, Natalia Paiva, fala sobre o aumento da reação contrária às políticas de diversidade, equidade e inclusão (DEI) em meio aos investimentos nesse campo, destacando a decisão da Suprema Corte dos EUA pela inconstitucionalidade de práticas de ação afirmativa em admissões em universidades. Natália explica que o contexto jurídico, social e político do Brasil é radicalmente diferente do norte-americano e que, do ponto de vista legal, a constitucionalidade de cotas no ensino superior brasileiro já foi referendada pelo #STF, assim como a aprovação de ações afirmativas no funcionalismo público em diferentes estados e no governo federal. "No coração da reação contra DEI está a percepção crescente de que essas iniciativas, ao invés de nivelar o campo de jogo, inadvertidamente criam novas formas de exclusão e discriminação (...) Ela parte da ideia popular, mas equivocada, de que diminuir desigualdades entre brancos e não brancos, ou entre homens e mulheres, implica perdedores e ganhadores. Não se trata disso. DEI trata de buscar uma cultura corporativa nas quais os processos sejam justos, e as práticas, inclusivas – para todo mundo", analisa Natalia. #Alandar #PolíticasPúblicas #Liderança #DEI #Tecnologia

Novo número do POWER to, o espaço onde figuras de relevo da sociedade civil partilham os seus testemunhos e pontos de vista sobre a agenda para a igualdade de género nas empresas. E o convidado desta edição é o Diretor da Exame. POWER to…Tiago Freire “Não vejo essa igualdade a chegar nos próximos anos, ainda que acredite que estamos muito melhor doque há uns anos. Esse movimento vai continuar, mas há ainda muito por fazer. Há uma base cultural da sociedade que é mais difícil de mudar e que leva mais tempo. Acredito que uma coisa não se conseguirá mudar sem a outra. Ou seja, a cultura tem de mudar...” Aceda à entrevista completa aqui  https://lnkd.in/d_6q4Wzn

|Texto de Luiza Bueno Martins de Assis| Recentemente, a sigla “DEI” tomou conta de alguns debates e tornou-se alvo das críticas da extrema-direita e de grupos conservadores nos Estados Unidos. DEI é uma abreviação para Diversidade, Equidade e Inclusão, e refere-se a um conjunto de práticas, estratégias e objetivos que buscam promover um ambiente mais inclusivo e equitativo em diferentes esferas da sociedade. Embora a DEI seja reconhecida como uma prática necessária, ela tem sido objeto de críticas e resistência por políticos republicanos. Os críticos argumentam que as políticas de diversidade geram uma “discriminação reversa”, onde os integrantes de grupos historicamente privilegiados podem ser desfavorecidos. Outros afirmam que essas práticas seriam capazes de limitar a liberdade de expressão e forçariam as pessoas a aderir a certas normas e ideais. Além disso, há uma onda de políticas anti-DEI em algumas regiões dos Estados Unidos. Essas políticas, muitas vezes promulgadas ao nível estadual, buscam limitar ou proibir a implementação de práticas de DEI em várias instituições. Leia o texto na íntegra aqui: #diversidade #igualdade #inclusão #uspolitics #latinos #latinosinusa #hispanic

🗣️ English version of the previous post. Ontem (20/01) foi o dia de acompanhar a atualização da governança dos EUA, com a volta de Donald Trump ao poder. Durante seu discurso após a posse, entre outras, a pauta de gênero volta a reverberar. Sob o argumento de que essas iniciativas "dividem" a sociedade, surge a pergunta essencial: ignorar desigualdades históricas realmente promove união? 🔍 Entendendo a falsa neutralidade A ideia de neutralidade, especialmente em temas como raça e gênero, ignora séculos de exclusão sistêmica. Políticas de ação afirmativa, longe de serem divisoras, são ferramentas cruciais para equilibrar as oportunidades e reduzir barreiras históricas. 📉 Os riscos de retrocessos em diferentes áreas - Educação: A diversidade nas universidades corre o risco de retroceder, enfraquecendo a representatividade e a pluralidade de ideias. - Mercado de trabalho: A falta de iniciativas inclusivas pode consolidar desigualdades, afetando especialmente grupos historicamente marginalizados. - Segurança pública: Problemas estruturais como a violência de gênero e o racismo podem ser negligenciados, ao invés de resolvidos. Hoje, o preconceito de gênero assume formas mais sutis. O chamado sexismo moderno se esconde atrás do discurso de "neutralidade", resistindo às mudanças necessárias e mantendo estruturas tradicionais de poder intactas. Esse comportamento rejeita explicitamente a discriminação, mas sutilmente perpetua privilégios e limita avanços. Políticas inclusivas não são um luxo; são uma necessidade para construir uma sociedade mais equitativa e inovadora. Reconhecer desigualdades e enfrentá-las é o caminho para um progresso verdadeiro, especialmente em contextos globais. Como internacionalista, estar atenta a essas dinâmicas é primordial! Ficaremos todos atentos aos próximos passos da nova gestão de um país ainda tão importante como os EUA. 

Diversidade: a necessidade de um olhar mais abrangente Começamos com uma definição muito usada para diversidade: "grupo de diferenças e semelhanças que definem pessoas, tornando-as únicas de acordo com sua etnia, cor, raça, gênero, orientação sexual, deficiência, religião ou nacionalidade." O conceito surgiu e muito se debateu sobre o tema, ideias, perspectivas, mas pouco se deu atenção ao detalhe de como isto começou. Baseado em um Tratado da ONU sobre Diversidade, o governo Brasileiro precisou torná-lo Emenda Constitucional, isto é, parte de nossa Carta Magna. Infelizmente, grande parte do que vimos aconteceu por imposição legal e não por iniciativa das esferas pública e privada. Com exceção de organizações já consolidadas em questões sociais e humanas, como esse tema seria tratado e teria evoluído se não fosse por exigência da lei? Admiro o trabalho e esforço empenhado por muitos profissionais, empresas, institutos, fundações, uma luta diária que teria maior alcance se nós, como seres humanos, diversos, tivéssemos essa questão como base de nossos valores e esta definição de Diversidade poderia ir além, pois somos seres distintos e a desigualdade extrapola o limite deste conceito e poderemos evoluir como unidade quando entendermos de fato o que é Diversidade e sua importância dentro da sociedade. #diversidade #cultura #história #crenças #respeito

Recentemente, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou em se discurso que pretende acabar com os programas de diversidade, equidade e inclusão (DEI). Essa declaração me inquieta profundamente, e acredito que também preocupa muitos de nós que trabalhamos todos os dias para construir ambientes mais justos e acolhedores. Programas de DEI não são apenas estratégias corporativas ou palavras bonitas em relatórios. Eles representam um compromisso com pessoas reais, com histórias e vivências diversas, que muitas vezes enfrentam barreiras para se sentirem pertencentes e valorizadas. São esses programas que nos ajudam a construir espaços onde cada indivíduo pode trazer sua identidade completa e ser respeitado por isso. Ouvir uma declaração como essa me faz pensar no quanto ainda precisamos avançar, especialmente aqui no Brasil, onde as desigualdades raciais e sociais são tão presentes. Se políticas como essas forem enfraquecidas, o impacto será sentido diretamente nas vidas de pessoas que dependem de uma sociedade mais inclusiva para ter acesso a oportunidades justas. É fundamental que as instituições brasileiras, especialmente as que atuam no *investimento social privado*, não se deixem abalar por discursos que tentam deslegitimar a importância da diversidade. Pelo contrário, devemos reafirmar nosso compromisso com a construção de um mundo mais equitativo e inclusivo, resistindo a qualquer tentativa de deslegitimar essas agendas fundamentais. É essencial que continuemos investindo em ações que promovam a diversidade em todos os níveis, desde a base até a liderança, e que possamos demonstrar o impacto positivo dessas iniciativas. Convido meus colegas e parceiros do setor a refletirem sobre o momento atual e a se unirem para garantir que os avanços em equidade racial e inclusão não sejam perdidos. #Diversidade #Equidade #Inclusão #InvestimentoSocialPrivado #Brasil #Empatia #Resistência

A meritocracia nas empresas prejudica ou ajuda na inclusão? Esse foi o mote de nossa enquete encerrada na semana, aqui no Linkedin. Não foi de muita surpresa o resultado apresentado. Embora o tema tenha atraído a atenção de mais de 1.500 pessoas, a enquete teve apenas 39 respondentes. O resultado é sem dúvida pouco expressivo e, do ponto de vista estatístico, não é o suficiente relevante para marcar uma tendência. Mas também pode inferir que muitas interessados deixaram de votar em razão de que não estavam suficientemente convictos sobre o tema. Contudo, em reconhecimento e gratidão aos que participaram, vale os comentários. 21% dos respondentes disseram que a meritocracia prejudica, enquanto 79% disseram que ajuda. Coincidência ou não, o resultado bate com o que já se observa entre líderes que se preocupam em promover a inclusão de forma mais autêntica: equidade não é igualdade. E isso é claro que defendem o acesso igualitário a oportunidades e não estão tentando resolver todos os problemas da sociedade. Por outro lado, uma nova (e desastrosa) onda no mundo corporativo se inicia com o abandono das políticas de DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão) em razão de que consumidores estão se opondo às suas práticas militantes (veja em https://lnkd.in/dvTjJYYp ), essas tradicionalmente caracterizadas por estupendos erros conceituais sobre inclusão, onde prevalece mais o voluntarismo pelas causas sociais do que zelar pela autenticidade do propósito. Por essa razão é que os líderes corporativas devem levar em conta de que contratar é de longe mais fácil do que incluir e a inclusão verdadeira está no quanto as pessoas são acolhidas e têm acesso as mesmas oportunidades. Nessa condição, o afastamento de preconceitos diversos no ambiente corporativo e a consciência de que a inclusão leva à diversidade cognitiva criam as condições para se fazer da inclusão uma estratégia de negócio. Embora a meritocracia não se equivalha à equidade, em seus sentidos literais, ela é a própria expressão de que a equidade está trabalhando, quando a oportunidade permitiu o reconhecimento do talento, sem preconceitos.