Mais cedo ou mais tarde, uma das duas promessas tinha de cair.
A ficção segundo a qual seria possível um tempo de viagem de 3 horas entre Lisboa e Madrid através da nova linha Évora-Elvas não podia durar muito.
Das duas, uma:
👉 Ou se reconhece que a linha Évora-Elvas vai ser utilizada em regime de tráfego misto (passageiros e mercadorias) como parte integrante da futura linha de alta velocidade (AV) entre Lisboa e Madrid, e que, portanto, o tempo de viagem entre as duas capitais, via Cáceres e Badajoz, vai ser muito superior às 3 horas;
👉 Ou se admite que a linha Évora-Elvas vai ser apenas para mercadorias e que, portanto, as 3 horas serão alcançadas através da construção de uma nova linha exclusiva para passageiros com um traçado ainda por definir.
Pessoalmente, sempre pensei que o governo acabasse por reconhecer a primeira limitação. Até porque Espanha já a reconheceu - pelo menos, indirectamente - ao nunca assumir as 3 horas como objectivo.
Para estupefacção geral, o ministro anunciou a segunda das limitações: a linha Évora-Elvas vai ser apenas para mercadorias. Para a ligação rápida entre as duas capitais, outra solução terá que ser encontrada. Nas palavras do ministro, “sabemos que mercadorias e passageiros não é o ideal para a optimização da utilização deste tipo de infra-estruturas”.
Mas desde quando é que Portugal precisa de soluções “ideais”? Se na Linha do Norte circulam comboios pendulares, intercidades, regionais, suburbanos e de mercadorias, não vai ser possível compatibilizar meia dúzia de serviços de passageiros e de mercadorias no meio da planície alentejana?
O troço Évora-Elvas está preparado para velocidades de 250 km/h em quase todo o seu percurso, pelo que pode perfeitamente integrar a secção portuguesa da linha de AV Lisboa-Madrid. Com frequências tão baixas e três estações técnicas para efectuar cruzamentos, não há nenhum problema de compatibilidade entre comboios rápidos de passageiros e de mercadorias naquele canal, mesmo sendo de via única.
Se não vamos aproveitar a infra-estrutura que se encontra em construção entre Évora e Elvas para integrar a futura linha de alta velocidade Lisboa-Madrid, vamos fazer o quê? Uma linha de AV paralela só para passageiros? A sério?
Claro que não.
A suposta “decisão” do ministro não é mais do que uma inevitabilidade de calendário. Apesar dos “desmentidos” do dia seguinte, ele sabe perfeitamente que não haverá nenhum operador interessado em (e tecnicamente habilitado para) realizar serviços internacionais de passageiros naquela linha no momento da sua abertura. Não foi uma gaffe. Está apenas a preparar o terreno para uma inauguração sem pompa nem circunstância.
Daqui a 10 anos, alguém terá de reconhecer que, afinal, a alta velocidade entre Lisboa e Madrid vai mesmo utilizar a linha Évora-Elvas, mas que o tempo de viagem será de cerca de 5 horas, no melhor dos cenários.
Mas, nessa altura, já será outro ministro a fazer o anúncio.
Técnico de Manutenção de Drones | Tradutor Técnico en-ptBR
1 semParabéns! Congratulations!